V

Vi hoje, de minha janela, seis raios caírem numa criança rodando o seu peão. Desde o século XII que não via nada assim. No primeiro raio a criança se tornou um compasso, e o som do trovão acelerou seu peão. No segundo raio o compasso virou uma garrafa de vinho chileno, e o peão rodando repetiu o som do trovão. No terceiro raio o vinho dentro da garrafa evaporou e deu origem num pé de laranjeira, e o trovão que estava atrasado não apareceu. No quarto raio a garrafa e o pé de laranjeira se misturaram e formaram uma poça de lama, e o peão sem muito ânimo pulou junto ao trovão. No quinto raio a poça de lama erodiu em um vulcão, que barulhento demais, nem atenção ao trovão deu, enquanto que o peão, com calor, do vento fez um cobertor. No sexto raio o vulcão que era fumegante se apagou, e um diamante preto apareceu, o peão esperto em seu cobertor inverteu seu giro no trovão, mas morreu de susto quando o terceiro estalo que vinha de longe fez da criança um pedaço de carvão.

Tempo

O tempo é uma grande ilusão. É superestimado por nossas convenções, que não chegam perto da grande realidade desconfortável e intragável de que somos conduzidos como indivíduos e corpos infinitamente separados por intervalos imperceptíveis, mas existentes, que nada significam em nossas rotinas inúteis, ou melhor, que nossas rotinas inúteis de nada alteram o grande surreal de que tudo o que vimos ou sentimos é nada mais que um passado recente. O presente é uma ilusão, o futuro nunca vai existir. O que vai se perpetuar para sempre é um passado imediato, por mais perto que esteja de nós, tudo é passado. O amanhã é um passado. A palavra que você lê agora é o passado. Você não está lendo esse texto agora, você o leu há um tempo. Tudo está limitado a ações do que já foi. Por mais recente que tenha sido o que foi. Nada que sente terá consciência real do futuro ou do presente, apenas uma especulação baseada no passado que se acumula eternamente em instantes anteriores ao pensamento. 

Hardcore Tourism

São José dos Campos
They say that the Banhado is the postal card of São José. It’s a nice view, ok. But it’s noisy and crowded, not comfortable. A better way to watch the sunset it’s on a peaceful and isolated place, or climbing a tree. There’s a nice tree you can climb deep in the Banhado. Surrounded by a farm with horses and cows, and even a railroad. You can reach it easily by bicycle or walking, following the roads that go down in the Banhado’s bottom, directed by the signs to ‘Res Esplanada do Sol’. Reaching ‘Res Esplanada do Sol’ you keep walking in the not paved road and go straight ahead. The tree is on the end of the road. Just before the railroad, where sometimes a huge and noisy train passes. The tree isn’t very tall, but it’s lonely and easy to climb. It’s a inhabited place, but people are far. Sex and drugs are possible. Go for the sunset, the night sky is equally valuable.