Ela era esplêndida, divina, maravilhosa, era a beleza, o espetáculo.
A outra chegara ali e se excitou, se tocou, envolvida com o mistério da primeira, tão instigante, tão linda. Se concentrou em cada detalhe, em cada curva dela, assistiu cada movimento, toda a sutileza. Se perdeu em seu comportamento sensual e labiríntico. Até que muito passou, que a outra só a envolvia-a mais e mais, num caminho sem volta, num desejo mútuo de se expandir, que percebeu que jamais conseguiria gozar olhando-a apenas, foi quando teve consciência que ela a estava convidando, se insinuando. E foi nesse tempo que a ciência deixou de se masturbar e finalmente fez sexo com a natureza, numa transa apaixonada e intensa.
Esse é só um dos sonhos eróticos da natureza em sua consciência universal, nós somos todos os outros.
XI
Passando de carro num fim de tarde na avenida Cidade Jardim, tem um cara do lado de uma bicicleta encostada olhando pro horizonte com um binóculo. Quem faz isso? Existe isso?
Tava ali vendo a lua cheia nascer e ia oferecer o binóculo pra qualquer pessoa que viesse andando pela calçada.
Carro passando, bozina!
Tava ali vendo a lua cheia nascer e ia oferecer o binóculo pra qualquer pessoa que viesse andando pela calçada.
Carro passando, bozina!
-Ó o cara com o binóculo ali! Tá olhando o que rapá?
-Tô vendo a Terra girar!
Provavelmente o cara foi sem entender. Do carro ninguém entende nada. Nessa idade média moderna ainda é o céu que gira.
A Terra girando e ninguém passou. Ninguém andando no chão. Só gente encaixotada flutuando ao redor. Jardim de pedra.
Depois guardei o binóculo e parti na bike, rachando o bico.
-Tô vendo a Terra girar!
Provavelmente o cara foi sem entender. Do carro ninguém entende nada. Nessa idade média moderna ainda é o céu que gira.
A Terra girando e ninguém passou. Ninguém andando no chão. Só gente encaixotada flutuando ao redor. Jardim de pedra.
Depois guardei o binóculo e parti na bike, rachando o bico.
X
Vinha vindo uma mulher enorme, muito gorda. Deve fazer tempo que essa mulher não vê sua prórpia buceta, porque até o joelhos não há espaço algum entre as pernas, apenas um emaranhado borbulhante de gordura. Seu andar está afetado, seu corpo está aleijado de forma, de feminilidade. Há tempos certamente que essa mulher não faz sexo, seu rosto está carrancudo, não parece ser uma pessoa feliz. Que homem se enveredaria naquele poço de banha? Essa mulher trocou o gozar pelo comer. Talvez sua mente esteja tão destroçada quanto o corpo, talvez um é reflexo do outro. Seu corpo veio se deteriorando e sua mente abdicou de lucidez e bom senso para acompanhar o trajeto sedentário dos seus hábitos físicos, ou talvez por sua mente inicialmente ser tortuosa seu corpo requeriu uma destruíção equivalente, um preço ao desbalanço e confusões de suas emoções. Essa mulher é uma imensa cicatriz, seu peso colapsa sobre ela mesma. Desfigurada ela caminha na procura de sentido em uma vida absurda. Essa mulher é a humanidade inteira, se entupindo a ponto de quebrar o próprio fêmur num passo curto em busca do que sua confusão lhe sugere.
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