A implicação filosófica da evolução científica - leia-se novas maneiras de interpretar e entender o universo, a natureza, a realidade - é sumariamente menosprezada por quem divulga, financia, e faz a ciência.
O desenvolvimento tecnológico é repetidamente mencionado como o produto positivo e propulsor da aquisição e ampliação de novas teorias, novas visões da natureza.
As descrições atuais da gravidade e todos os desdobramentos do conhecimento do eletromagnetismo - tudo acumulado e aprimorado, e ainda em evolução, como nós - nos proporcionam hoje a capacidade inédita de uma comunicação global por meio da internet, em que interações instantâneas de indivíduos (chamadas "em tempo real", existe um tempo real?) ocorrem não mais no plano mecânico, mas no virtual, eletromagnético, além da capacidade orgânica do nosso corpo, mas tornadas possíveis pela inserção prática do desenvolvimento da ciência por dispositivos computadores. É a evolução entrando no campo das nossas relações de uma maneira rápida, drástica e irreversível.
Somos uma espécie que se destaca pela curiosidade, raciocínio, superação, e continuamos usando nosso desenvolvimento intelectual para compensar nossa fragilidade física, como uma herança ancestral de comportamento. Um homem, só, num ecossistema selvagem, tem dificuldade de sobrevivência. Não somos individualmente propícios à sobrevivência num contexto fora da civilização que nos abriga.
Nossos esforços e pensamentos devem se direcionar ao compreendimento geral do universo, o que fomos capazes até agora de absorver e ao que podemos ainda aprender, ao invés de apontar numa evolução individualista, fragmentária, que cria de propósito problemas demais, sob rédeas de quem passará por cima deles, com lucro e exploração. Há um interesse persistente, de poucos dos muitos que somos, de que o conteúdo intelectual de cada um continue sendo distribuído num contexto econômico monetário, no antigo formato de troca. A ciência cria uma maneira de ultrapassar essa barreira, a culminação dos conhecimentos de toda a história no desenvolvimento da internet dá condição hoje que qualquer um possa ter acesso ao que bem entender, a compartilhar ideias, queixas e soluções em escala global, livre de fronteiras e mercados. O conteúdo artístico-científico-imaginário-cultural-onírico-evolutivo de cada um de nós, se é uma propriedade, é uma propriedade da natureza, cujo acesso jamais deve ser negado ou manipulado. O acesso é universal.
Seria mais vantajoso e elevado, pro cosmos, se houvessem mais pessoas que entendessem finalmente os movimentos e a tridimensionalidade do sistema solar do que as que assistem filmes 3D no cinema. A lua tão perto, tão massiva e corpórea, esférica, e tanta gente ainda vendo-a como um sorriso, como um disco. Os planetas girando tão lindamente em suas órbitas gigantescas e pessoas preocupadas com a pequenez da ascendência do seu signo. Gente tomando decisões tão importantes desconhecendo o que é tão valioso. Os ciclos da nossa terra sincronizados com os movimentos do nosso planeta, da lua, do sol, e pessoas se perdendo num calendário plano, aritmético. O calendário é uma tabela astronômica, os números são quantificações humanas da natureza e além, representações lógicas do abstrato. Tudo acontecendo ao mesmo tempo num céu que vê metade do infinito, que é infinito, e gente acendendo luzes para um deus sujeito, figura que conjuga verbo, com personalidade e memória, humano sobretudo. Um deus gramatical, encerrado nas letras do homem, limitado pelas palavras de todas as línguas. Gente que ignora que tudo é um só e que cada um é tudo.